segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Oggi ti amo di più...

Mina - Oggi ti amo di più (1988)
CD Apreciação: 10 /10

Quem pretender adentrar-se na canção italiana deve começar por Mina Ana Mazzini. Desde 1958 que tem percorrido uma extensa carreira com particularidades que se ajustam a uma certa imagem de italianidade... Elegância, versatilidade, teatralidade podem definir tal imagem, incluindo o ponto de mistério que envolve o seu abandono da cena artística desde finais dos anos 70, no auge da popularidade. Contudo, a partir da cidade suíça de Lugano, onde como que se exilou, não deixou de gravar e editar todos os anos. Hoje em dia, poucos artistas terão discografia tão extensa. Tal ausência/presença mitificou-a ainda mais junto do público italiano.
De fora não é fácil aperceber a projecção de Mina em Itália. Ajudará, quanto muito, a memória que alguns ainda terão dos programas musicais da RAI nos anos 60 e inícios de 70, onde Mina era figura de destaque. 
Sob o vigente império do mainstream, como produto exportável, Mina não tem grande viabilidade comercial. Por cá, é difícil encontrar algum CD de Mina. Uma boa iniciação será através de uma antologia, mas as que se conseguem encontrar não cobrem mais do que os anos 60. Ora, sucede que a partir de 1967 Mina passou a gravar para a sua própria editora, PDU, direccionada para o mercado italiano e suíço. A grande maioria da sua discografia é, portanto, desta editora, incluindo as melhores antologias. É claro que um bom minófilo tende a torcer o nariz a qualquer antologia, encontrando motivos de escândalo por se deixar de fora um punhado de temas da sua predilecção. Ainda assim, Oggi ti amo di più é uma das mais consensuais. Basta dizer que começa, com três preciosidades consagradas: Grande, grande, grandeL'Importante e' finireAncora, ancora, ancora - esta última, note-se, nunca saiu em álbum de originais. Tem, ainda, outra mais-valia: a capa. Com efeito, se bem que o esmero visual seja uma constante dos seus álbuns, esta capa é de um invulgar romantismo. Ajusta-se na perfeição ao título, também ele de ressonância romântica.

Campeões Primitivos

Preston North End FC - Primeiro Campeão da Liga Inglesa de Futebol (1888-89)
Estávamos em plena era da Rainha Vitória. O Império Britânico era ainda um império, o mais importante império mundial. Para além da Mancha não se fazia a mais remota ideia do que poderia ser o futebol. Contudo, em certas zonas da Escócia e Inglaterra o futebol já era importante. Tanto que, em 1888, esta modalidade, derivação plebeia do rubgy, estabeleceu-se em Inglaterra como espectáculo profissional e organizado em campeonato por poule de duplo confronto (em terreno próprio e alheio). É certo que era ainda um fenómeno social e geograficamente circunscrito. Dizia respeito à classe operária e a três regiões: Lancashire, West Midlands e East Midlands. Todas os clubes que inauguraram o campeonato eram daí. Não havia nenhum de Londres. Basicamente, a Liga permaneceu com esta configuração até à Grande Guerra (1914-18). Nesta fase adquiriu impacto local e tornou-se um espectáculo proletário dos sábados à tarde. Os primeiros jogadores profissionais eram oriundos do operariado e os valores próprios da cultura operária estavam presentes, tanto quanto o público era maioritariamente operário e os clubes originários do associativismo sindicalista, religioso ou recreativo. Contudo, as classes médias foram aderindo progressivamente. Quanto às classes elevadas os seus desportos de equipa continuaram a ser o cricket e o rugby.
Eis a classificação final da 1º edição da Liga (1888-89):
1 - Preston North End FC - 40
2 - Aston Villa FC - 29
3 - Wolverhampton Wanderers FC - 28
4 - Blackburn Rovers FC - 26
5 - Bolton Wanderers FC - 22
6 - West Bromwich Albion FC - 22
7 - Accrington FC - 20
8 - Everton FC - 20
9 - Burnley FC - 17
10 - Derby County FC - 16
11 - Notts County FC - 12
12 - Stoke FC - 12
Preston é uma cidadezinha do Norte do Lancashire, situada nas margens do rio Ribble, a pouco mais de 40 Km de Manchester e Liverpool. Então, como agora, pouco ultrapassaria os 100.000 habitantes. Na altura era industrial e portuária. Os demais clubes eram também quase todos de pequenas e médias cidades periféricas desta área de Liverpool - Manchester, assim como da área de Birmingham. Porém, dessas cidades, propriamente ditas, só havia dois: Everton FC (Liverpool) e Aston Villa FC (Birmingham), sendo de notar, que ambos ostentavam nomes alusivos ao seu bairro, não à cidade. Curiosamente, os 3 últimos classificados são os únicos de fora dessas áreas.
Com excepção do Accrington FC, todos estes clubes fundadores continuam activos em divisões profissionais. Aliás, metade compete na presente Premier League. Everton FC, Aston Villa FC e Wolverhampton Wanderers FC têm um rico historial competitivo. Quanto ao primitivo campeão, Preston North End FC, se é certo que as suas glórias se limitam a este título, ao título da edição seguinte e à conquista de duas Taças (AF Cup), não é menos certo que ao longo da sua longa história tem levado uma existência modesta mas tranquila. Nas últimas épocas tem militado na League Championship, ou seja, no segundo escalão, tendo vindo a terminar em posições da 1ª metade da tabela. Tem, geralmente, assistências médias por época superiores a 10.000 espectadores por jogo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Vademecum Futbolero

Guía Marca de la Liga 2010
Livro - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
No início de cada época futebolística surgem nas bancas os guias dos campeonatos, apresentando equipas, jogadores e fazendo o ponto da situação com estatísticas. São editadas por jornais ou revistas desportivos. Entre nós, A Bola, Record e O Jogo fazem-no rotineiramente. Por todo o lado onde o futebol tem impacto e recursos é assim. Na Inglaterra, Holanda e Alemanha, por exemplo, não há jornais desportivos, mas há, em contrapartida, revistas dedicadas exclusivamente ao futebol que publicam guias como edições especiais. Contudo, a referência nesta matéria vem de Espanha, mais precisamente do clássico diário desportivo, Marca.
Os Guías Marca de la Liga são, ano após ano, o vademecum, por excelência, do aficionado espanhol mais exigente. O deste ano tem 434 páginas repletas de informação, onde o futebol espanhol está documentado até à exaustão e o mundial devidamente sintetizado. Com efeito, tem a ambição de cobrir o essencial do futebol mundial, propósito em que que só é superado, nomeadamente em registos estatísticos, por publicações como o Almanack of World Football - anuário da FIFA. Nisto, o contraste com o paroquialismo das nossas publicações é chocante. Aliás, em rigor, chocante é a diferença sistemática em quantidade de informação e na forma como é apresentada. O grafismo é não só apelativo como eficaz. A cor, o tipo de letra e outros elementos, devidamente legendados têm significado informativo. Por outro lado, a concepção gráfica aponta claramente para a distinção entre essencial e acessório. O que se nota de forma especial na apresentação do plantel das equipas, onde há trabalho de edição que se distingue do trabalho burocrático de despejar a informação remetida pelas instâncias oficiais.
A Guía Marca de la Liga só não é a perfeição porque, para além de um ou outro erro de detalhe em matéria de futebol fora de Espanha, de resto compreensível, não conseguiu resolver o maior problema que afecta este tipo de publicações: a rápida desactualização da informação sobre a composição de plantéis, tendo em conta a necessidade de sair para as bancas antes do termo do prazo limite de contratações de jogadores.

Anos 60, Rive Gauche: Nino Ferrer

Nino Ferrer - Nino Ferrer (2001)
CD - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Nino Ferrer nasceu em Génova, Itália, mas fez carreira em França, apesar de ter feito também, marginalmente, uma carreira no seu país natal. Nos anos 60 obteve sucesso com temas como Les cornichons, Agata e Mirza, exemplos da pop frívola desses tempos. Mas, desde o início era patente a sua versatilidade, pelo carácter jazzy de algumas das suas composições e versões, pela sua vocalização em estilo soul e pelo seu talento em compor baladas melódicas. Com efeito, foi o autor de C'ést Irréparable, que sairia do anonimato como Un Anno d'Amore, versão italiana de Mina e, posteriormente, ainda mais, com Luz Casal cantando a versão espanhola, Un ano de amor, num dos filmes de Almodóvar. A partir dos anos 70, procurou caminhos vanguardistas e explorou outras áreas artísticas, como a pintura. Espírito atormentado, acabou por se suicidar, deixando grata memória entre os seus fans.
Esta colectânea ilustra a trajectória da sua carreira francesa. Por aqui se pode ver como evoluiu, de um modo que o levaria a um experimentalismo difícil de definir, mas, em todo o caso, abraçando géneros distantes da simplicidade e alegria pop dos anos 60. Não é um simples CD, já que este está integrado num pequeno livro com documentação sobre o artista e excelente grafismo.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ver Paris (5)

Le Petit Parisien: 3 Plans par Arrondissement

Mapa / Guia - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Temos aqui uma excelente edição para turistas, em forma de caderno, com os mapas organizados por arrondissements - três por cada, com respectivamente: 1) informações sobre a rede de metro; 2) informações comuns; 3) informações sobre a rede de autocarros urbanos. É fácil de manusear e com um grafismo indicado para se obter rápidas localizações. Indicado para levar para todo o lado. Em todo o caso, note-se, que, sendo uma metrópole cuja área metropolitana atinge quase 10 milhões de habitantes, tem uma rede de transportes à altura das suas necessidades, organizada e sinalizada de modo a permitir a qualquer um, incluindo forasteiros, uma utilização fácil. Sabe-se como a rede de metro é exemplar, pois chega a todo lado e demonstra em alto grau essas qualidades de organização e sinalização. Contudo, andar debaixo do chão numa cidade como Paris é desperdício...
Já agora uma observação para a organização em arrondissements. À imagem dos départements, deve ser uma das heranças do racionalismo jacobino em matéria de administração territorial. Mas, do mesmo modo, foi a divisão adequada, na medida em que está entranhada na vida da cidade e parece ser, ao contrário das nossas freguesias urbanas, funcional.


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ver Paris (4)

Daniel Quesnay - Rétour à Paris (2005)

Livro - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Os postais tiveram o seu tempo de glória quando ainda não havia turismo de massas, ou seja quando não havia ainda folhetos e filmes. Foi há um século atrás. Em rigor, não se pode dizer que fossem um recurso de divulgação turística. Havia, sobretudo, propósitos artísticos ou documentalistas na utilização de um recurso, a fotografia, relativamente novo e sem concorrência em matéria de registo visual. Por outro lado, o turismo estava reservado a elites que optavam por um restrito leque de destinos conhecidos e prestigiados.
Se há cidade que tem muitos postais, Paris é uma delas. Neste álbum o que se faz é, nos mesmos sítios, comparar postais de há um século com fotos da actualidade. O objectivo deste tipo de obras é causar surpresa pelas mudanças que se ilustram - o que é fácil de conseguir em quem está familiarizado com os respectivos lugares. Porém, para quem não está familiarizado, não é tanto assim... É que o distanciamento permite outras observações. Nesta linha, diria que o álbum aqui em apreço pode servir tanto para verificar mudanças como para constatar permanências.
Paris não é uma cidade refeita e muito menos em ruínas. Lisboa e Porto são cidades simultaneamente refeitas e em ruínas - refeitas na forma abrupta como se implantaram tão grande quantidade de novos edifícios; em ruínas, na forma desleixada como se degradaram tão grande quantidade de velhos edifícios. Paris restaura, preserva, adapta. É certo que não foi sujeita a bombardeamentos como outras cidades europeias, mas não é menos certo que a harmoniosa continuidade na evolução do património edificado retrata uma força de carácter. Basta ver o que é detectável neste livro: exteriormente, as casas de Paris, hoje, são como há um século atrás. Das chaminés às persianas. O estilo mantém-se e o moderno integra-se; e moderno com impacto, se for preciso...


domingo, 23 de agosto de 2009

Bolero em Catalão

Moncho - On és la Gent? (2003)
CD - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Desde há uns anos que Moncho tem vindo a fazer gravações em catalão, intercaladas com as que continua a fazer em castelhano. Ao mesmo tempo, sem abandonar o bolero, tem-se abalançado por géneros afins. Aqui surge a interpretar versões em catalão de três conhecidas canções italianas: Grande, Grande, Grande (Meva, Meva, Meva), Parole, Parole (Paraules, Paraules) e Caruso (T'Estimo Tant). As duas primeiras, de Mina; a última, de Lucio Dalla. Além disso, alarga o seu repertório de versões de Joan Manuel Serrat com Pare e M'en Vaig a Peu. Mas, acima de tudo, há que destacar um tema inédito ou, pelo menos, pouco conhecido, Ningú com tu! Sublinhe-se que é um dos mais bonitos do seu repertório em catalão. É, enfim, mais um álbum que consolida o renascimento da sua carreira. Com os seus dotes interpretativos e produções à altura, o veterano Moncho é uma das mais importantes figuras do cenário actual do bolero.

El Gitano del Bolero

Moncho - El Arte del Bolero (2007)
CD+DVD - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Moncho é diminutivo de Ramón e, neste caso, é o nome artístico de Ramón Calabuch, cigano barcelonês, conhecido como El Gitano del Bolero. Nunca esteve propenso para o flamenco ou para a rumba, mas antes para o... bolero. Nos anos 70 atingiu alguma notoriedade com gravações que são uma referência no seu género. Nos anos 80 caiu no esquecimento, passou de moda. Ressurgiu nos anos 90 com novas gravações, embora produzidas com arranjos um pouco melosos. Ultimamente tem vindo a fazer gravações com um nível de produção superior, seguindo duas vias: por um lado, a tradicional, continuando a desbravar o território do bolero puro e duro; por outro lado, a inovadora, cantando boleros ou canções bolerizadas em catalão, incluindo temas de Joan Manuel Serrat.
Este é um dos seus últimos álbuns, que confirma uma trajectória ascendente. Desta feita, tem a colaboração de vários artistas da cena flamenca, enquanto o repertório é constituído por boleros que havia gravado nos anos 70. Participam, como pares de dueto ou instrumentistas, Diego el Cigala, Jorge Pardo, Lolita, Parrita, Tomatito, entre outros. A opção foi, portanto, fundir flamenco e bolero, algo que nunca tinha feito. Resulta numa mistura quente, na maior parte dos temas, dominada por uma sonoridade rumbera - algo irónico, tendo em conta o título, El Arte del Bolero. Os arranjos são excelentes e a voz de Moncho nunca suou tão expressiva na sua tonalidade agridoce, tendo aqui mais uma demonstração de como as suas qualidades transcendem o bolero. De facto, este álbum veio dar mais sentido ao apodo El Gitano del Bolero. Para tornar o empreendimento exemplar, refira-se ainda que o DVD tem um documentário que explica como as gravações foram feitas e apresenta os artistas convidados.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Edith Piaf

Edith Piaf - Platinum Collection (2007)
CD - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Esta colectânea de Edith Piaf é constituída por 45 temas divididos por 3 CDs. Para além de abranger os temas mais importantes, tem notas informativas sobre cada um e uma breve resenha da sua vida e obra. Saiba-se que há 2 edições integrais das suas gravações: uma, luxuosa, ligeiramente acima dos 100€ e outra, minimalista, por um incrível preço em torno dos 25€.
As gravações de Edith Piaf estenderam-se pelos anos 40, 50 e início dos 60. Era uma época em que, com excepção dos EUA e, eventualmente, da Grã-Bretanha, não havia ainda álbuns
LP. O formato dominante era o EP de 78rpm, que permitia, no máximo 4 canções - duas de cada lado. Os primeiros álbuns apareceram, aliás, como compilações de EPs. Presumo, portanto, que Piaf não tenha álbuns LP originais. Para os artistas cuja obra gravada se encontra nestas circunstâncias as compilações têm maior importância e é pena que não sejam frequentes as que são feitas criteriosamente e com informações adicionais. Piaf, graças à projecção que tem, ainda assim é uma das excepções, pois, como referi, da sua obra existem duas compilações integrais e algumas compilações de média extensão e qualidade aceitável como é o caso desta.

Ver Paris (3)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ver Paris (2)

Sylvain Augier - Paris Vu du Ciel (2009)
DVD - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Este DVD, também da Éditions Montparnasse, pode ser considerado um complemento de Paris, la visite. Os objectivos são diferentes. Dado cingir-se a meios exclusivamente aéreos, o que se pretende são visões panorâmicas. À partida, as cidades mais indicadas para um documentário deste género são as que estão situadas em enquadramentos naturais com impacto, a não ser que sejam suficientemente monumentais... Ora, esse é o caso de Paris. Reconheça-se que não serão muitas as cidades, que só por si, sustentariam um documentário exclusivamente aéreo, com quase uma hora de duração.
Sylvain Augier, o realizador, já tem no seu curriculo La France Vue du Ciel e Le Nord - Pas de Calais Vu du Ciel. É um especialista em documentários aéreos. Aqui temos mais uma prova. A única menor valia a assinalar é que a qualidade técnica do vídeo não está ao nível de excelência de, por exemplo, Paris, la Visite.

Ver Paris (1)

François Margolin - Paris, La Visite (2002)
DVD - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Antes de mais, diria que estamos perante o
non plus ultra em matéria de documentários sobre cidades. A Montparnasse Édtions é a responsável e, deve-se dizer que tendo em conta mais outros dois DVDs (Louvre, Versailles) da mesma colecção, La visite, é uma editora que convém registar como referência de qualidade.
Neste documentário tudo é excepcional:
a qualidade de vídeo, que não sendo HD, não deixa de ser soberba; o texto, que reúne qualidades literárias e informativas; o conceito que lhe está subjacente e que reproduz num ciclo de 24 horas a evolução histórica da cidade; a fotografia, oscilando adequadamente entre o poético e o realista; a música, através de bonitos temas alusivos à cidade e que podem também ser vistos como videoclips autonomamente. Este último aspecto é de relevo, pois basta dizer que o primeiro tema é Il est Cinq Heures, Paris s'Éveille, de Jacques Dutronc e o último é Mon Manège à Moi, de Edith Piaf. Diferentes facetas da cidade são apresentadas de modo sugestivo. E a matéria-prima é do melhor. Ou seja, Paris é o que é, dos seus encantos já tudo parece ter sido mostrado, mas o documentário consegue ajudar a conhecer e amar ainda mais a cidade.


domingo, 16 de agosto de 2009

Paris: Brasseries

François Thomazeau / Sylvain Ageorges - Brasseries de Paris (2006)

Livro - Apreciação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Reconhecer uma brasserie é fácil, mas definir em que consiste é mais difícil... A introdução do livrinho começa precisamente por este paradoxo, que se acentua com a resenha histórica de como surgiram e se desenvolveram. Com efeito, hoje em dia, é difícil perceber a sua origem popular. Além disso, caracterizava-se por servir rápido. Foram nesse tempo (último terço do século XIX) uma espécie de fast food (vade retro, miserável evocação!), invenção de alsacianos. Saber isto faz surgir a comparação com as cervejarias. É, talvez, uma comparação aceitável desde que eliminemos a conotação popularucha que lhe está associada. É que, mesmo na sua modéstia inicial, as brasseries ambicionavam uma certa elegância. Aliás, desde o início que foi evidente que tinham um caminho a seguir. Antes de terminar o século XIX, já eram interclassistas e muitas eram frequentadas por artistas, intelectuais e políticos. Com o tempo, evoluíram e tornaram-se requintadas sem caírem no elitismo.
Hoje em dia, são uma referência no que à boca diz respeito, mas também, note-se, no que diz respeito à vista. De facto, seguindo ou não o dominante estilo art déco, são espaços com encanto. O serviço, impecavelmente ataviado, é desembaraçado, simpático e eficiente. Dentro deste molde há variedade. Algumas são castiças, como Au chien qui fume e Au pied de cochon (ambas na zona de Halles). Outras são quase instituições de serviço público, como L'Alsace, em pleno Champs Elysées - pejada de turistas e aberta 24 horas por dia (não é a única). Outras acolhem VIPs do millieu político e intelectual, como a Lipp, em Saint-Germain-des-Prés. Outras, ainda, estão integradas em edifícios de grandes gares, onde, de certo modo, se pode reviver os tempos áureos do caminho-de-ferro, como Terminus Nord (Gare du Nord) e Le train bleu (Gare de Lyon).
O livrinho aqui em apreço é um guia com informações e fotos sobre 49 das mais conhecidas brasseries de Paris, agrupadas por arrondissaments. O texto é de François Thomazeau e as fotos são de Sylvain Ageorges. É da editora Parigramme, especializada em temática sobre a cidade. É de ter em conta para os amantes de Paris e da boa mesa.
E termino, voltando à questão inicial. Como definir brasserie? É incontestável o seu lugar na hierarquia da restauração. Mas, mais do que estar acima de bistrôt e abaixo de réstaurant, é um lugar que se distingue pelo estilo e ambiente, o qual se pode resumir em descontracção, elegância, bom gosto e sentido prático.

Paris: O Bom-Gosto das Coisas Comuns




É trivial reconhecer a beleza de Paris. Mas, convém nunca esquecer que, entre outras coisas, é como que a capital, por excelência, do bom-gosto e requinte. Nas pequenas e grandes coisas. Não o ignorava, tanto mais que meu pai, que viveu na cidade no pós Grande Guerra de 1914-18, não se cansava de o dizer. Deixou, aliás, um acervo de postais que me serviu, juntamente com os suas descrições, para um detalhado conhecimento... à distância. Pude agora comprovar o que sabia: não há, efectivamente, cidade como Paris. Espanta a quantidade e qualidade dos seus monumentos, como é evidente. Mas, o que lhe dá um carácter especial, é o generalizado bom-gosto presente nas coisas comuns, como as casas vulgares, os bistrots, as brasseries. Há um estilo parisiense que toca com a sua graça mesmo as coisas simples. Esse será, utilizando um termo que alguém apropriadamente achou, o espírito do lugar.

Soy un Perro Callejero

Em 1981, em Madrid, ouvi numa emissora de rádio uma rumba-pop, Por la Calle Abajo. Era simples e alegre, como convém ao género. Contudo, tinha um arranjo marcadamente moderno. Era o meu primeiro contacto com Los Chunguitos. Desde então fui seguindo esse trio gitano, reunindo uma boa parte da sua extensa discografia. Alguns anos mais tarde, um álbum gravado ao vivo incluía o tema que inspira o título deste blog: Perros Callejeros. O original tinha sido gravado em finais dos anos setenta e integrara a banda sonora do filme Perros Callejeros II (1982). A versão ao vivo tem uma introdução orquestral espectacular. A letra tem impacto; é sobre um jovem marginal, protagonista do filme, El Torete. O mundo da delinquência é, aliás, um lugar comum da temática rumbera, mas este exemplo consegue ser original e épico. É um hino de todos os que, por alguma razão e de algum modo, descambaram para as margens da vida.

Restruturação

Problemas técnicos acabaram por tornar oportuna a restruturação de Soy un perro callejero. Nesta segunda fase (Soy un perro callejero II) reorganizar-se-ão os conteúdos, os quais, por outro lado, passarão a estar mais orientados para temas menos explorados. Digamos que é uma oportunidade para aprofundar o espírito de vadiar por assuntos diversos e fora dos gostos e modas vigentes. Em todo o caso, continuará a prevalecer a música, nomeadamente a salsa, a ranchera, o flamenco, a rumba, o bolero, a canção italiana, assim como algum soul e pop dos anos 70 e 80. Por esta e outras razões haverá uma marca de continuidade e basta dizer, por exemplo, que serão recuperados posts anteriormente publicados.