sábado, 19 de setembro de 2009

Doce Viver


Emílio Santiago - Bossa Nova (2000)
CD - Apreciação: 6,5 / 10

A música brasileira teve sempre ampla difusão por cá. Contudo, a popularidade alcançada deste lado do Atlântico nem sempre é proporcional à da origem. É este o caso de Emílio Santiago, um intérprete negro. Apesar das fortes influências africanas na música brasileira, os negros não abundam tanto quanto se poderia esperar na
MPB.... Nos anos 60 e 70 destacou-se Jair Rodrigues; nos anos 70 e 80, Milton Nascimento e Gilberto Gil; nos anos 80 e 90, Djavan. Em todo o caso, estes protagonistas não têm nas suas vozes o travo distintivo da negritude como sucede com Emílio Santiago. Ora, a voz quente e aveludada deste cantor combina magnificamente com a bossa nova e o samba-canção e não surpreende, portanto, que no seu repertório haja constantes incursões nestes géneros.
Nos finais do anos 80 e início dos anos 90 Emílio Santiago editou vários álbuns que constituíram a série Aquarela Brasileira, onde se espraiou por clássicos da bossa e do samba-canção. Foi um filão nostálgico, comercialmente compensador. Sucede que esses álbuns eram interessantes pela matéria-prima e pela voz, mas algo limitados pelo conceito e orquestrações. A sistemática utilização do medley e de arranjos convencionais eram a sua imagem de marca. Em contrapartida, os últimos álbuns já reflectem conceitos de produção mais refinados. É o caso deste. Continua a explorar a linha nostálgica, mas de um modo temático coerente, orientado para a bossa-nova, com orquestrações sofisticadas que envolvem da melhor forma o veludo quente da voz. São todos temas conhecidos e alguns consagrados. Não se pretende fazer nada de original, mas apenas refazer pela enésima vez, com virtuosismo e glamour, a conhecida receita dos génios criadores da bossa-nova, mas com uma voz que acrescenta algo... É uma fórmula que permite saborear o que se pode traduzir pelo título da mais soberba das peças aqui incluídas, Doce Viver, de Nelson Motta.


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