segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ceará - Andaluzia

Raimundo Fagner - Traduzir-se, Traducir-se (1981)
CD - Apreciação: 7,5 / 10


Que relação pode haver entre o Brasil e o flamenco? É óbvio que pouca. Contudo, o cearense Raimundo Fagner faz aqui um álbum que pode ser catalogado como nuevo flamenco. De facto, em rigor, isto é válido para cerca de metade dos temas. O resto é um repertório mais próprio de Fagner, mas com uma incursão invulgar: o poema de Florbela Espanca, Fanatismo, que, aliás, é o tema de abertura e com aparato...
É um álbum mestiço, mas dominado por um astral flamenco, eloquentemente enunciado pela pose de Fagner na foto da capa, com sombrero andaluz, em plena Plaza Mayor de Madrid (só faltava em vez do cigarro, um puro...). Parte dele foi produzido e gravado em Madrid, com a participação de Mercedes Sosa, Manzanita, Joan Manuel Serrat e Camarón de la Isla. Todos interpretam duetos com Fagner em temas marcantes das suas carreiras: Mercedes Sosa - Años (de Pablo Milanés); Manzanita - Verde (de Lorca); Serrat - La Saeta (de Antonio Machado); Camarón - La Leyenda del Tiempo (de Lorca). Diga-se que algumas destas versões talvez superem os originais... Mas não fica por aqui. Trianera é um tema de ressonâncias flamencas que se estende por mais de sete minutos, quase em roda livre.
Fagner nasceu no Ceará e é filho de um libanês e de uma índia. Para o Nordeste nos finais do século XIX e inícios do século XX afluiram imigrantes da Turquia, Síria e Líbano, popularmente conhecidos como turcos ou mascates (não esquecer seu Nacib, de Gabriela...). O cantor justifica a sua atracção pelo flamenco, pela ascendência paterna. É uma crença muito difundida essa, a das influência árabe no cante, mas, na verdade, ela foi menor do que se possa crer... O certo é que a sua voz desgarrada se adapta bem ao género e que esse sua aptidão e gosto proporcionou um álbum original.

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